Doze Contos Peregrinos
Doze Contos Peregrinos
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Ainda não conhecia nada do autor, embora já tivesse ouvido falar em seu nome, mas foi segundo a sugestão do vendedor de uma livraria da cidade que resolvi trazer para casa Doze anos de solidão, que foi uma introdução digna à literatura de Gabriel García Marquez, ganhador do prêmio Nobel de literatura.
Dividido em doze contos, como bem antecipa o título, a obra começa com “Boa viagem, senhor presidente”, conto que fala sobre os anseios e o estado de vivência de um presidente derrubado que encontra um pouco de sentido de amizade e compaixão em um até então desconhecido.
O livro começa de maneira cativante, com o conto nos transportando ao momento apresentado quase que instantaneamente, com descrições detalhadas sem prolixidade. Gabriel García Marquez escolhe as palavras sabiamente e as põe no papel de maneira a encantar o leitor a cada página.
“A santa”, segundo conto do livro, nos traz o dia-a-dia da batalha de um homem que busca a canonização da filha, que faleceu e foi encontrada intacta no caixão anos depois da sua morte. É, de maneira singela, um dos contos mais tocantes do livro.
Entre contos de amor, solidão, esperança e reflexão, encontramos espaço até para o sobrenatural em “‘Só vim telefonar'” e “Assombrações de agosto”. García Marquez liga os contos como se fizessem parte de uma só história. É possível perceber a marcação das suas palavras e o ritmo se torna fluido durante o livro inteiro.
“Maria dos Prazeres” nos apresenta a história de uma mulher que não vive no auge da sua inesperada profissão e sente que está prestes a morrer, então encomenda seu leito de morte. É uma personagem brasileira e humana, com uma vida um pouco mais palpável que outras, presentes no livro.
Talvez o conto mais previsível e lugar-comum, “Dezessete ingleses envenenados” não traz surpresa ao leitor e se perde em meio aos contos presentes na obra. Não segue uma linha contínua desde o início e um detalhe é pego para finalização do conto. No final, ainda me perguntei se o autor não poderia ter deixado passar esse, em específico.
Já “Tramontana” é completamente o oposto do conto anterior. Trata das lembranças do autor sobre a tramontana, que vem a ser explicada no decorrer das poucas páginas, e como tais lembranças têm ligação com um fato que está ocorrendo naquele momento na vida da personagem. Está entre os meus preferidos.
Quase no final notei que se trata de um livro de contrapontos e surpresas. “O verão feliz da senhora Forbes” pode ser caracterizado (por mim, claro) como perturbador. Terminada a leitura não soube se ria ou chorava ou o que pensar sobre a história descrita. É um ótimo conto.
“A luz é como a água”, por sua vez, é divertido e um dos contos mais curtos do livro e dá abertura a “O rastro do teu sangue na neve”, que finaliza a obra da maneira mais magistral que pude perceber em uma leitura durante esse ano, quiçá em muitos anos. É um conto sensível e profundo, que nos leva ao cenário frio de Paris para conhecer um pouco da comovente história de Billy e Nena.
Creio que, depois de Doze contos peregrinos, vou ter que ler a maior quantidade possível de obras de Gabriel García. Ele traz ao leitor em sua coletânea de contos um retrato da Europa que geralmente não conhecemos em best-sellers e filmes que chegam ao cinema. É um cenário misterioso e até aconchegante, com um toque de familiaridade que, por vezes, quase é possível se ver dentro de um ou outro conto.
http://epigrafiaalternativa.blogspot.com.br/2014/07/doze-contos-peregrinos-gabriel-garcia.html