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Tive... problemas com esse livro. Alguns. Bom, eu gostei dele, então o problema não foi esse. Achei fácil de ler, as cenas de batalha são bem escritas e a construção de Marte como um planeta ancestral, onde já houve vida — ainda que uma vida improvável, totalmente no lado soft da ficção científica — foi bastante interessante. Na escrita, só fiquei incomodado com [1] o excesso de comparações a animais da fauna marciana, que pareciam estar presentes apenas para mostrar tudo o que a autora havia criado para a história, e [2] as frequentes interrupções, trazendo informações a mais, vindas sabe-se lá de onde, sobre uma coisa ou outra, tornando tudo mastigadinho demais, sem confiança de que o leitor pudesse ser capaz de captar o sentido. Tendo dito isso, vamos ao resto. Vou tentar esconder os spoilers mais descarados, mas, daqui para frente, tudo pode ser considerado um spoiler sobre o fim da história; fica o aviso, portanto.
Soberana me lembrou muito de um texto que li recentemente, Writing Is Hard: Redemption Arcs for Racist Characters (em inglês). O planeta Marte criado por Kássia Monteiro é dividido entre quatro espécies diferentes, e a humana é a espécie (auto)considerada superior, que escraviza as outras três. Por consequência, a protagonista, humana e de família real, é racista — a palavra não é usada, mas é o que ela é. Não apenas racista, mas, ao conseguir seu poder de volta, ela se mostra como uma pessoa cruel, que não apenas faz cumprir as leis segregacionistas criadas pelo conselheiro malvado, como também mata, fere e escraviza pessoas inocentes, sem pensar muito a respeito. Há um arco de redenção, pelo qual esperei o livro todo, mas que veio só no final. Segue trecho do texto que mencionei, em tradução livre:
3. Arcos de redenção dificilmente começam cedo o suficiente na história. O autor não pode começar um arco de redenção no último ato ou última metade do livro. Ele deve ser plantado com antecedência e uma certa nuance. De outra forma, a reversão não fará sentido para o leitor, será repentina demais. Se está escrevendo um arco de redenção para qualquer personagem, esse deve ser o arco central; do contrário, poderá ser visto como má caracterização.
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Soberana
Liarlinde, em um dos últimos capítulos e só depois de ver que seu conselheiro não é tão confiável assim, conversa com a Escrava Boazinha — logo depois, inclusive, de afirmar que a mesma não possui alma e é inferior —, que, por algum motivo, vê o a soberana "como ela é por dentro" e a faz acordar para a vida. Liarline, então, percebe que estava errada o tempo todo, liberta todo mundo e vai atrás do perdão do seu grande amor, que é o verdadeiro arco do livro.
Senhora
Senhora
Soberana