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Romance Finalista do Prémio LeYa 2017.Portugal, primeira metade do século XX. Entre os males que assolam um país isolado e retrógrado, a tuberculose ressalta como uma das principais causas de morte. Ainda sem recursos farmacológicos para combater a doença, os médicos recomendam aos infetados o internamento em sanatórios instalados em zonas de altitude. Na serra do Caramulo, outrora uma região pobre e agreste, cresce uma estância sofisticada que, no auge do seu funcionamento, chega a acolher milhares de doentes.Entre o edifício do Grande Sanatório do passado – onde o drama do jovem Armando se cruza com o dos outros pacientes –, os escombros do presente, visitados por uma rapariga que coleciona histórias de escritores tuberculosos, e as páginas escritas pelo misterioso «R. N.», movem-se almas de todos os tempos: Eduardo, Natália, Carolina e Ernest, mas também Soares de Passos, Júlio Dinis, António Nobre e tantos outros atingidos pela febre das almas sensíveis.Combinando o registo histórico e a toada fantástica que produziram a magia de Rio do Esquecimento, neste novo romance, finalista do Prémio LeYa, Isabel Rio Novo recupera a memória de uma doença esquecida, que marcou a sociedade de uma época e o nosso imaginário romântico.
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(...)o número de tuberculosos internados aumentou de tal forma que, a partir de 1933, o imóvel passou a chamar-se Grande Sanatório. A Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial afastavam os tuberculosos abastados dos grandes sanatórios europeus e traziam-nos para a serra portuguesa.
Portugal, início do século XX, uma época marcada pela peste branca. Em pleno Estado Novo a história de uma família tocada pela tuberculose. Dos três irmãos rapidamente sabemos que a má sorte saiu a Armando.
A tuberculose não era, afinal, a febre das almas sensíveis. Era a doença das multidões operárias das cidades, trabalhando mais do que o permitido por lei, amontoadas em mansardas sem esgotos, exaustas e mal alimentadas. Era a doença dos sobreviventes das guerras, estropiados, desnutridos, desprovidos de tratamento, deambulando pelas ruas com quadros graves de primoinfeção. Era a doença das sociedades miseráveis. E Portugal era uma sociedade miserável.
Crianças, mulheres, homens, pobres, ricos, civis, militares, todos igualados na sua condição, jazendo como despojos humanos, imagem triste de um país atrasado, analfabeto, faminto, onde os funcionários públicos recebiam misérias, a velhice não era protegida, as escolas e as universidades debitavam um saber obsoleto, as mulheres se desentranhavam a parir, o sarampo, a disenteria e as bexigas matavam as crianças antes de estas largarem o peito das mães e a tuberculose crescia, crescia sempre.
Tal como Hans Castorp da Montanha Mágica, Armando interna-se na Estância Sanatorial do Caramulo onde o tempo perdia a sua grandeza matemática para se equiparar a uma estranha espécie de medida biológica.
É nesta antecâmara da morte que ficamos a saber um pouco mais desta doença, dos seus contornos mais desagradáveis, e da forma como a sociedade olhava para estes infelizes. As crendices e superstições aliadas à ausência de cura resultam numa rejeição daqueles que estão doentes e daqueles que conseguiram curar-se.
Gostei muito da rapariga que vai surgindo na narrativa com as suas «Considerações sobre a morte, alinhavadas por R. N.».
É uma viagem pela nossa História, por um país que não tinha meios nem recursos para combater uma pandemia como a tuberculose.
O último doente deixou a estância do Caramulo em 1986.