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Sabe aquelas histórias que te marcam daquela maneira forte e sem avisar e que depois de ler você precisa de um tempo para pensar e finalmente poder falar para o mundo sobre? Para mim, a história de Julie Murphy foi assim. Terminei de ler Dumplin' há pouco mais de duas semanas, mas só me senti pronta para falar sobre esta trama agora.
Dumplin' traz a história de Will, uma garota cheia de curvas, de vida e atitude que mora numa cidadezinha pequena que sedia o mais antigo concurso de beleza do Texas. Depois da morte de sua adorada tia, Will irá honrar sua memória e participar do concurso de beleza (que por acaso, tem sua mãe no quadro de vencedoras/participantes antigas e na organização). Este é o fio condutor da trama e eu poderia passar parágrafos e mais parágrafos nesta resenha te contando nos mínimos detalhes esta história, mas para isso existe a sinopse, não é mesmo? (E para conhecer os detalhes você deve ler o livro, claro.) Então hoje eu vou te contar o que faz de Dumplin' uma história tão importante – e não só porque sua protagonista é plus size, mas porque ela tem amor próprio e confiança.
Sendo assim, vou bater nesta tecla: Dumplin' traz uma mensagem poderosa para nos amarmos como somos. Will é gorda sim e para ela isso não é o fim do mundo – ela lida muito bem com os olhares dos outros, se ama do jeito que é e [geralmente] não liga para a opinião alheia. Esta é, provavelmente, a personagem que mais quebrou estereótipos neste ano (dentre os livros que li, obviamente) porque passa esse ensinamento de aprender a se amar e a não julgar o corpo dos outros. Todo o clima da narrativa é muito body-positive e isso é realmente legal.
Um outro ponto que realmente me agradou durante a leitura foi o tratamento que Murphy deu para as amizades e dinâmicas familiares retratadas – foram essas dinâmicas que claramente influenciaram a formação dessa personalidade empoderada que encontramos em Will. Os outros temas abordados (como o relacionamento entre a mãe esbelta e seu passado com seus dias de glória e sua filha gorda, ou o relaciomento entre duas moças que são opostas, ou o relacionamento entre uma menina e um menino vindos de “mundos” diferentes...) se desenvolveram sempre de forma bastante positiva para os personagens – o que muito me espantou porque esperava que o foco ficasse cem por cento no concurso, mas realmente o concurso foi um ponto no meio de tantos outros que compuseram a parte dramática (e cômica?) da trama.
É claro que nem tudo são rosas e eu demorei um pouco para ficar convencida da relação dela com seu par romântico, Bo. Me pareceu que Bo estava ali apenas para provar aos leitores que garotas como Will possuem sim relacionamentos felizes e normais e senti falta de um pouco mais de tempero nas cenas entre eles – aquela química toda que me arrepia em outros casais estava bem fraca aqui porque talvez tenha faltado um pouco mais de desenvolvimento e aprofundamento na relação dos dois. Entretanto, passados alguns dias desde que finalizei a leitura, tentei imaginar esta história sem Bo e não consegui, porque ele também é uma peça essencial em todo o desenrolar dos acontecimentos, ainda que nem todos os acontecimentos o envolvam efetivamente.
Outra coisa que me incomodou um pouco foi a atitude de Will. Ela é o foco de seu próprio mundo (e não estou dizendo que isso é ruim), mas por causa disso perde tantas outras coisas! Por exemplo, a grande briga (que ocorreu por razões egoístas, claro) com sua melhor amiga poderia ter sido evitada ou todos os problemas com o garoto que ela amava poderiam ter sido evitados e muitas cenas poderiam ser diferentes. Mas obviamente Will é uma adolescente e vai sim cometer muitos erros e fazer uma grande bagunça – afinal, isso faz parte de crescer e encontrar seu caminho.
Julie Murphy cruou uma história bastante realista e com um final um tanto inesperado, com um gosto agridoce e de aquecer o coração (possivelmente também romanticamente falando). Eu esperava mais do último capítulo e quando terminei o livro fiquei com a sensação de que faltava alguma coisa na história – é isso o que finais abertos fazem comigo. Ainda assim me parece, agora, que paramos de acompanhar Will em um momento oportuno, ficamos marcados com seu caminho até o ponto em que paramos e não com o final – lembra da música da Miley? O importante é a escalada.
Achei a escrita bastante focada em detalhes, o que fez com que a leitura fosse realmente devagar – o que combinou completamente com o ritmo do livro (que foi em passos pequenos, cada um a seu tempo). Geralmente não me sinto tão inclinada a ler histórias assim, mas esse caminhar lentamente ao mesmo tempo que atrapalhou no meu ritmo de leitura (porque tendo a perder o foco e precisar voltar páginas frequentemente), funcionou para Will e seus amigos – tivemos tempo para entender o lugar em que eles vivem e as pessoas que compõem a cidade.
Enfim, Dumplin' é uma história para ser guardada no coração e compartilhada com outras pessoas. Me pareceu feita para alcançar todos aqueles que alguma vez se sentiram inseguros ou frustrados consigo mesmos – pela forma como seu corpo é, pela forma como fala ou age ou por como seu cabelo é isso ou aquilo, em resumo, todas aquelas dúvidas que chegam via pressão social. É uma história que reaviva aquela confiança que devemos sentir sempre e nos faz chegar a conclusão de que não somos feitos das imposições e rótulos que a sociedade nos dá – a vida é mais do que rótulos de magra, baixa, gorda, alta e etc. etc. etc., a vida é feita de todas as experiências e sorrisos e valores e amores. (de repente me senti super entendida em autoajuda agora, desculpa)
Ah! Obviamente não posso deixar de falar de Dolly Parton! 😍 Suas músicas embalam toda a trama e Will me fez virar ainda mais fã dessa mulher maravilhosa com letras tão inteligentes e tocantes.