Imperialismo, estágio superior do capitalismo

Imperialismo, estágio superior do capitalismo

1917 • 192 pages

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Desde 1912, Lenin tem a percepção de que a história mundial ingressava numa fase nova, na qual se consumava o desenvolvimento relativamente pacífico do capitalismo e se marchava para conflitos radicais e profundamente significativos, constatação que o conduzirá, entre 1912 e 1916, a um estudo vigoroso para relacionar a multiplicidade dos fatos na análise do imperialismo, exposta no ensaio de 1917. O imperialismo constitui, para Lenin, uma nova etapa do desenvolvimento capitalista, com a inequívoca dominância dos monopólios e do capital financeiro. E o capital financeiro resulta da fusão das distintas formas de capital, uma vez que estas já se constituíram independentemente e se estruturaram monopolicamente. Sua existência, portanto, não é correlata à do capitalismo, mas própria da etapa monopólica. É neste sentido também que “o característico do imperialismo não é o capital industrial, e sim o capital financeiro” O refinamento teórico da análise de Lenin manifesta-se na concepção de que, de um lado, o imperialismo aparece como um desdobramento dos avanços do capitalismo (“o imperialismo surgiu como desenvolvimento e continuação direta das propriedades fundamentais do capitalismo em geral”); de outro, entretanto, sua consolidação determina que propriedades fundamentais do capitalismo tendam a se converter em sua antítese. Isto significa que esta nova etapa do capitalismo contém elementos contraditórios que permitem caracterizá-la, ao mesmo tempo, como uma estrutura de transição (“O velho capitalismo caducou. O novo constitui uma etapa de transição e algo distinto”). E a contradição maior resulta do fato de que a socialização alcança seu ponto mais elevado (abrangendo a totalidade dos processos produtivos, o processo de trabalho, os mercados, o Estado etc.) exatamente quando a concentração da propriedade privada chega ao limite. Em suma, o monopólio explicita de modo contundente a subordinação do social ao privado, no sentido de que a estruturação da vida social se vê regulada, em última instância, pelo movimento das massas centralizadas de capital. Isso significa que o monopólio exacerba a privatização das relações sociais. E, reversamente, é também então que se socializam as relações privadas, visto que é apenas nesse momento que se completa a socialização do capital, ou seja, o capital passa a ser propriedade de muitos, estando seu controle submetido ao domínio de poucos. A privatização das relações sociais e a socialização das relações privadas constituem, assim, a contradição característica do monopólio. Entre outros aspectos cruciais, a análise de Lenin traz uma questão de relevante consequência política: “a dominação do capital financeiro, em vez de atenuar a desigualdade e as contradições da economia mundial, o que faz é acentuá-las”. Tampouco as crises são mitigadas com o advento do monopólio: ao contrário, “o monopólio que se cria em vários ramos da indústria aumenta e agrava o caos próprio de toda a produção capitalista em seu conjunto”. A partir de questões como esta, Lenin estabelece os nexos entre imperialismo, guerra, aguçamento das contradições de classe e revolução proletária, numa sofisticada articulação intelectual que assegura a originalidade de sua contribuição teórica.

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