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É a segunda vez em 2016 que me deparo com um livro que eu gostaria de ter escrito. O primeiro foi Morangos mofados, do Caio Fernando Abreu, e, agora, o Daniel Galera me vem com esse tapa na cara chamado Meia-noite e vinte, que é, em sua maior parte e com algumas ressalvas, uma versão melhorada do livro que estou tentando escrever desde o ano passado — com o detalhe de que escrevo ficção científica, mas aí não é nada de mais.
O que mais me chamou a atenção em 0h20 foi o realismo dos personagens. Embora tenha ficado incomodado com o gay "não sou/curto afeminados e penso em sexo mais do que seria recomendado", devo admitir que o diálogo interno dele era completamente crível, e me pergunto o tanto de gente com quem o Galera conversou pra escrever este romance, que consegue ser, ao mesmo tempo, muito diferente de e muito semelhante a todos os outros dele — a assinatura do Galera está aqui, seus diálogos, seu jeito de conduzir as coisas; mas é algo que, estruturalmente, ele ainda não tinha feito, com vários protagonistas e POVs diferentes, incluindo o de um homem gay. Faz sentido, isso? Faz sentido pra mim. Em uma entrevista, o Galera disse que, antes de escrever 0h20, ele se perguntou se não seria o momento de escrever uma narrativa pós-apocalíptica, mas escreveu, em vez disso, uma pré-apocalíptica. Acho que isso define bem: pré-apocalíptico; um Zeitgeist pesadíssimo, a sensação de fim do mundo que paira por sobre todos nós desde o começo dos anos 2000 — ou desde sempre, para ser sincero.
Meus problemas com o livro foram pontuais, mas fortes. Basicamente, eu preferia que o personagem gay tivesse sido tratado de outra forma em basicamente tudo, incluindo o final; como eu disse, é tudo bastante realístico, mas acho que esse tipo de personagem faz mais mal do que bem pra imagem de qualquer homossexual. O final, principalmente, me deixou bastante balançado, e ainda não formei uma opinião concreta sobre ele. Fica uma estrela a menos como dúvida.