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Carolina – Mulher – Negra – Mãe – Favelada – Catadora de Lixo - EscritoraDepois de ter lido [b:O Sol na Cabeça 38896855 O Sol na Cabeça Geovani Martins https://images.gr-assets.com/books/1519938447s/38896855.jpg 60444239] de [a:Geovani Martins 17762621 Geovani Martins https://images.gr-assets.com/authors/1530322731p2/17762621.jpg] tropecei neste Quarto de Despejo. A temática é a mesma, a vida nas favelas. Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade rural, neta de escravos negros e de pais analfabetos.Aos sete anos recebeu “uma bolsa” de estudos de uma das freguesas da mãe. Fez os dois primeiros anos do ensino e desistiu. Mesmo assim adquiriu o gosto pela leitura e através deste hábito foi desenvolvendo a escrita.Em 1937 a mãe de Carolina morre e esta resolve partir para a capital do estado, São Paulo.Entre empregos informais e trabalhos domésticos consegue ver um poema seu, em louvor de Getúlio Vargas, publicado no jornal “A Folha”.Em 1947 mudou-se para a extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, num momento em que começavam a surgir as primeira favelas – hoje é onde se encontra o Estádio do Canindé cuja propriedade é do clube Associação Portuguesa de Desportos - construiu o seu barraco, utilizando madeira, latas, papelão e qualquer material que encontrava. Saía todas as noites para catar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família. Quando encontrava revistas e cadernos antigos, guardava-os para escrever nas suas folhas. Neste Quarto de Despejo, que não é mais do que um diário, ela esmiúça o quotidiano dos moradores da favela e, sem rodeios, descreve os factos políticos e sociais que via, detalha as suas dores e os absurdos da vida que levava em condições de extrema marginalização. Ela escreve sobre como a pobreza e o desespero podem levar as pessoas de boa índole a trair os seus princípios simplesmente para conseguirem comida para si e para as suas famílias. Em Abril de 1958 Audálio Dantas, um jornalista do jornal A Folha da Noite, inicia as pesquisas para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e quando aborda os moradores daquele lugar todos eles lhe dizem que deveria falar com Carolina. No meio daquela miséria ele lê os textos de Carolina e resolve publicá-los assim mesmo, sem alterações, apenas com algumas correcções para um melhor entendimento por parte dos leitores. Presentes ao longo destas pouco mais de cento e cinquenta páginas estão a indignação, a pobreza, a marginalização, o racismo, os desgostos, a dor, a descriminação e fome, muita fome.O sucesso deste livro foi grande mas rapidamente a autora voltou à sua condição de catadora de lixo. A força deste livro não está na prosa mas na autenticidade com que foi escrito. É um livro triste e profundamente humano. Como documento histórico tem um grande valor, mas como livro não vale grande coisa.Historiadora Elena Pajaro Peres fala sobre aspectos da vida e obra da escritora