Há algum tempo eu não sentia essa vontade de terminar capítulos e histórias. Navegar por essa tapeçaria de Ted Chiang é conhecer desconhecidos inimagináveis e ainda assim sentir que tudo é palpável e potente e real.
Tenho minhas favoritas, mas cada história, apesar de muito diferentes, foi notavelmente criada pela mesma mente genial que parte de uma ideia pontual, observada ou imaginada, expande ela por uma perspectiva logico-científica e cria um pedaço de mundo perfeito pra receber uma história sempre muito humana e instigante.
Além de todas as histórias balancearem muito bem ciência fantástica e dramas humanos, o livro como um todo também é muito bem organizado, sequenciando contos com ambientações, narrativas e estruturas muito diferentes, o que deu, a meu ver, um ótimo ritmo à coletânea. Ainda sobre narrativa e estrutura, comunicação entre forma e conteúdo do texto sempre me encantam, então escrever memórias em tempo futuro num conto e emular uma argumentação matemática ao longo da estrutura de outro foram alguns dos pontos altos da leitura pra mim.
Fui fisgado por Arrival e Story of Your Life, e conhecer mais da ficção de Chiang foi uma ótima experiência. Com certeza lerei mais no futuro.
Tenho percebido que guerra não é exatamente um tema que me atrai. Mas não foi só por isso que essa leitura me decepcionou um pouco.
O próprio autor diz - sobre outro autor, mas achei irônico - “his prose was frightful, only his ideas were good”. Muitas coisinhas me incomodaram durante a leitura, como a escrita repetitiva em frases curtas e secas, ou a apresentação de arcos e personagens que não vão a lugar algum. E apesar disso tudo, alguns conceitos presentes na história são interessantes e demonstram potencial, como a visão do tempo como fixo e acessível e a ressignificação da morte (com o qual Ted Chang faz um ótimo trabalho). Mas todas as ideias são jogadas de um jeito meio caótico e deixadas sem muito apreço, o que pode ser intencional, porque é bem consistente, mas não me agrada.
So it goes.
A revolução não agressiva do texto de Kimmerer dialoga muito comigo. Foi ótimo entender mais sobre essa faceta do universo indígena norte-americano e repensar as relações de consumo e gratidão na humanidade, macro e micro. E, claro, tentar aplicar essas reflexões numa forma de ver o mundo que contribua minimamente para a cura.
As relações com o mundo mais-que-humano através da ciência também alimentam algo que vem crescendo em mim desde ler Sheldrake, ou antes disso. Foi bom pensar mais sobre isso.
Só achei que, estruturalmente, o livro se perde um pouco entre textos isolados e narrativa continua, mas nada muito problemático.
Tive uma experiência média. A história é fluida o suficiente, mas tem elementos que não me agradam muito. Gosto bastante do período mais bucólico da história, da formação dos protagonistas e da evolução da conexão entre eles. A experiência geral de leitura também foi agradável, apesar de alguns detalhes.
Toda a temática de guerra e honra e glória me são meio entediantes, mas acaba sendo parte integrante da história original, não tem muito o que ser feito. Mas algo que me incomodou bastante foi a inconsistência da narração, primeiro com tempo verbal no passado, depois brevemente no presente, depois de volta ao passado, depois de volta ao presente, sem motivos claros o suficiente para as trocas. Essa técnica podia ter sido uma ferramenta narrativa muito interessante, mas a oportunidade foi perdida, ao meu ver.
Outro ponto foi o tratamento de alguns personagens, tendo viradas de personalidade sem grandes justificativas, o que é menos grave, e alguns tratados de forma muito superficial ou unidimensional, o que acaba ficando um pouco caricato.
Enfim, 3 estrelas.
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