As Serviçais

Este livro é formidável. Não sou grande fã de histórias sobre a segregação, por serem tão incómodos, mas “As Serviçais” fá-lo de uma forma suave, meiga, sem deixar de ser real. Contando o dia-a-dia de cada personagem, ficamos a conhecer o quanto era cruel e abusivo a imposição de determinadas regras por parte dos brancos sobre os negros e a forma digna como estes resistiam em silêncio contra essas crueldades e o medo contínuo em que viviam. Tem passagens tão emocionantes, momentos hilariantes e tantos outros cheios de tensão. Acima de tudo, nunca é aborrecido, moralista ou previsível deixando-nos a nós, leitor, à vontade de tirar as nossas próprias conclusões.

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A década de 60 do século XX foi um período de luta intensa por direitos iguais. Líderes como Martin Luther King Jr. estavam na vanguarda do movimento, organizavam protestos pacíficos e faziam discursos poderosos que clamavam pelo fim da segregação racial.

I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression will be transformed into an oasis of freedom and justice.
Martin Luther King Jr.

No entanto, a resistência ao progresso era feroz, com muitos sulistas brancos obstinadamente apegados às suas crenças e práticas racistas. Este contexto de tensão e esperança proporciona o pano de fundo para a narrativa de As Serviçais.

A história passa-se em Jackson, Mississippi, uma cidade com uma história complexa, especialmente em relação às questões raciais. Nos anos 60, Jackson estava no epicentro da luta pelos direitos civis, com muitos activistas a trabalhar incansavelmente para desafiar a segregação e a discriminação racial. No entanto, a cidade também era conhecida pela resistência feroz ao progresso racial, reflectida nas atitudes e nas leis locais que procuravam manter a supremacia branca.

As casas das famílias brancas, como as dos Leefolt e das outras senhoras brancas da Liga das Senhoras, são cenários centrais no livro. Estas casas representam não só a opulência e o privilégio dos seus habitantes, mas também a opressão e a exploração das empregadas negras que ali trabalham. Cada casa é um espaço onde as dinâmicas de poder e os preconceitos raciais são manifestos e onde as personagens navegam as complexas interacções sociais.

— Foi exatamente por essa razão que planeei a Iniciativa Sanitária do Pessoal Doméstico. Como uma medida de prevenção de doenças.(...)— Um decreto exigindo que em todas as casas brancas haja uma casa de banho separada para os criados negros. Até notifiquei o inspetor-geral de saúde do Mississípi, para ver se ele apoia a ideia. Hilly Holbrook apresenta a Iniciativa Sanitária para o Pessoal Doméstico. Uma medida de prevenção da doença. Instalação a baixo custo de casa de banho na garagem ou telheiro para casas que ainda não possuam tão importante equipamento.Senhoras, sabiam que:— 99% de todas as doenças dos negros são transmitidas pela urina— Os brancos podem ficar permanentemente incapacitados por quase todas essas doenças, porque nos faltam as imunidades que os negros possuem na sua pigmentação mais escura— Alguns germes dos brancos também podem ser prejudiciais aos negrosProtegei-vos. Protegei os vossos filhos. Protegei o vosso pessoal doméstico.Da parte dos Holbrook, dizemos, Não têm de quê.

Aibileen e Minny são duas empregadas afro-americanas que trabalham nas casas de famílias brancas. Skeeter é uma jovem branca que aspira a ser escritora. Juntas, elas colaboram num projecto secreto para escrever um livro que revela as dificuldades e as injustiças enfrentadas pelas empregadas domésticas negras no sul dos Estados Unidos. Através deste livro, Skeeter pretende dar voz às empregadas domésticas negras de Jackson, expor as injustiças e humilhações que elas enfrentam no seu dia-a-dia, desafiar as normas sociais e raciais da sociedade sulista dos anos 60, promover a mudança social a empatia e compreensão entre diferentes raças.

As mulheres negras não enfrentam apenas o racismo e a segregação, elas também enfrentam a violência doméstica, a humilhação constante e uma sociedade dominada pelos homens. É uma obra histórica poderosa que não só entretém, mas também educa sobre um período crítico da história americana. Não foi há tanto tempo quanto isso, foi nos anos 60! É uma história de coragem e solidariedade, que revela as dolorosas verdades da segregação racial, e dá voz às mulheres negras cujas histórias foram silenciadas por uma sociedade injusta.