biografia de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal
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A mais completa e rigorosa abordagem à vida e obra de uma das figuras mais carismáticas e controversas da História de Portugal
Quem foi Sebastião José de Carvalho e Melo até alcançar o poder total? E o que fez depois – e efetivamente – com esse poder?
Com base numa exaustiva pesquisa e na leitura rigorosa das cartas escritas e recebidas por Sebastião José de Carvalho e Melo, Pedro Sena-Lino apresenta-nos o biografado através da voz do próprio. Assente em provas documentais, e apenas se permitindo uma via dedutiva quando os testemunhos se mostram menos abundantes, este livro demonstra como a relação de um líder consigo mesmo pode ter transformado medos próprios em fantasmas nacionais, muitos deles ainda presentes e atuantes nos dias de hoje. Esta biografia dá conta da misteriosa forma como, no início da sua vida pública, aquele que viria a ser conhecido como Marquês de Pombal vê conjugar-se um improvável conjunto de fatores que permitem a um lavrador forçado a nascer de socalcos e xisto, a um homem sem experiência relevante, uma impressionante escalada social e política, da Real Academia das Ciências, passando pelas embaixadas em Londres e Viena, até chegar à liderança do governo da nação.
Em De Quase Nada a Quase Rei, conhece-se um homem que, dono de uma psique sedenta de vingança, triunfou ferindo. Sebastião José é o nome do político que reformou a educação, o sistema fiscal e a Lisboa pós-terramoto, mas também do homem que, tendo escapado a uma tentativa de assassinato, a transformou num atentado à vida do próprio rei e se vingou nos Távoras e dizimou os jesuítas. Um belo e rigoroso estudo dos subterrâneos da alma humana, um retrato da ambição, do ressentimento, da frieza, do calculismo e de outras características que enformam os grandes ditadores.
Excerto do livro
«Nunca mais será o fidalgote de província, apontado enquanto entra silencioso mas grande nas salas reais como o de sangue sujo, bisneto de africana, neto de cristã-nova, neto e filho de falsários. Nunca mais será o raptor da mulher, o desterrado em quintas distantes entre parentela rústica, estrangeiro entre eles, exilado da sua família, os sonhos altos do pai e avô a ferverem-lhe o sangue contra a traição da mãe, acicatada pela ternura e simpatia do padrasto, a herança justiceira do trisavô a ombrear-lhe os gestos. Não será nem jamais nem de novo o representante de um rei beato, confusamente no mundo, o enviado cuja palavra não tem peso e cujas ameaças não trazem actos, que o fazem reviver uma adolescência longa onde não pôde ser nada. Nunca mais isso: agora já nem era Sebastião José, nome de baptismo mas também nome de troça, porque não era Dom, porque não era um título, porque era, a cada assinatura, a cada referência, a cada situação, apenas esse e isso: sete sílabas do que não era. Agora era Conde de Oeiras. Assim assinava: ou Oeiras só, a terra comprada e agigantada pelo tio, eco antigo do seu nome e obra ganho pelo seu trabalho e esforço: donde vinha, até a quem o devia, e quem se fizera por ele mesmo. A vitória total sobre o seu passado, até sobre a sua mãe, sobre os seus detractores. E faria dessa Oeiras um palácio como vira em Inglaterra e na Áustria (o palácio é, realmente, muito semelhante ao de Tarouca), celebração do que era e do que ele próprio fez. E ele fizera-se a ele mesmo.»
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