Diário involuntário, narrativa dos invisíveis, crónica de costumes, episódios da vida privada: eis a história de uma rapariga de aldeia que vai para a capital como criada de servir. «Não há muitas histórias assim, que nos mostrem o avesso do dia-a-dia de gente comum. A protagonista de Na terra dos outros e todas as peripécias da sua vida passam a fazer parte do nosso imaginário, transformando este romance num feito literário incomum.» João Tordo Na terra dos outros conta-nos a extraordinária vida de uma mulher comum: Maria do Carmo, uma de milhares de raparigas que deixaram a família e o quotidiano severo no campo e abalaram para as cidades, sozinhas, em busca de futuro. «Criadas para todo o serviço», ocupavam-se do que quer que conviesse aos patrões; muitas vezes, recebiam por paga somente cama (dura) e comida (escassa); não havia folgas, férias ou licença para sair. A Revolução de Abril, vivida dentro de portas e entre sussurros, traz grandes mudanças, embora pouco retorno, e Carmo vai reinventando os seus dias, década a década. Com impressionante desenvoltura romanesca, este livro leva-nos do fim da ditadura às portas da atualidade, acompanhando uma emancipação ainda desigual, ainda por cumprir. A história de uma vida que se cruza com a história de um país em formação: planos adiados, desígnios perdidos, ilusões desfeitas. «Chamava-se Maria do Carmo Gouveia. Era pequena, mesmo para os onze anos que contava de idade. Tinha um corpo delgado, braços mais rápidos que fortes. Os olhos muito escuros, quase pretos, vigiavam as imediações com uma demora que havia quem tomasse por insolência. A mãe afiançava que insolente ela não era, pelo contrário, tratava-se de uma rapariga lesta e obediente, aprende rápido, aliás já sabe cuidar de uma casa melhor que muitas mulheres feitas. Maria do Carmo duvidava das suas próprias aptidões. Se ouvia aludir ao futuro, limitava-se a assentir com a cabeça. Os planos apenas se tinham tornado claros quando a mãe lhe anunciara a data da partida, estavam as duas a lavar roupa na cozinha. Então Maria do Carmo zangara-se. Gritara que não iria. Gritara que não lhe tinham perguntado nada e que, caso lhe tivessem perguntado, ela teria dito que não, nem morta, muito menos com a Dona Benedita, uma velha horrível que ela vira duas ou três vezes. Com a fúria arremessara o coto de sabão que segurava. A mãe bradara que não queria conversas e Carmo que apanhasse o sabão ou aquilo acabava mal.» «Não há muitas histórias assim, que nos mostrem o avesso do dia-a-dia de gente comum. A protagonista de Na terra dos outros e todas as peripécias da sua vida passam a fazer parte do nosso imaginário, transformando este romance num feito literário incomum.» João Tordo
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