Perturbação
Perturbação
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Este livro andava lá por casa há muito tempo. Sempre o evitei por - e não minto, meus amores - ter uma capa feia e uma descrição na contracapa que anunciava uma lamechice insuportável. Ocorre-me qualquer coisa sobre juízos e capas de livros e coiso e tal.
Ignorante de quem era Thomas Bernhard, comecei a ler Perturbações sem grande excitação na moleirinha. Mas depois veio aquele desfile de bizarrias, um festival de personagens grotescas e maravilhosas que iam sendo visitadas pelo médico e pelo seu filho, do miúdo louco e músico genial que vive numa jaula com a irmã, aos putos isolados na garganta do Hochgobernitz, que matam aves com o polegar, até chegarmos, finalmente, ao príncipe.
O príncipe é o último paciente a ser visitado pelo médico. Metade do livro é, no fundo, uma preparação para o príncipe. A segunda metade é um extenso monólogo do príncipe. Ora, isto é tudo feito muito a meu gosto: o monólogo é bizarro, versa sobre loucura, solidão, a posição do homem genial no mundo, niilismo, sobranceira, etc. As primeiras cinquenta páginas do monólogo (a coisa dura cento e tal) são absolutamente geniais, uma daquelas coisas que até dá tesão, mas a coisa perde dinâmica aos poucos, ou eu é que me fui cansando.
Leva com carimbo de recomendado, sem dúvida, mesmo que tenha a certeza que muitos bons leitores não chegarão ao fim do discurso do Sarau.