The Book of Disquiet: The Complete Edition

The Book of Disquiet: The Complete Edition

1961 • 608 pages

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15

Bem que poderia se chamar “livro das reclamações”.

Bernardo Soares é eloquente demais para que eu me afilie com simpatia a sua visão melancólica e tediosa das coisas. Há certo senso de autoimportância na linguagem que, embora bem sirva para o personagem Bernardo Soares como artista - isolado do mundo e das coisas, dedicado a seu ofício de sonhador -, pesa muito no sentido de desprezar o que ele toma como lucidez e classificá-la apenas como mais uma interpretação arrogante do mundo. Sendo franco, é como se ele quisesse nos provar constantemente que sua posição no mundo e visão da realidade, precisamente por ser desimportante, é a mais importante porque baliza a sua elevação artística. Típico caso de soberba disfarçada de autodepreciação.

O fato de que o livro é elaborado em fragmentos dispersos faz com que logo a leitura perca o impulso. Logo Livro do Desassossego se torna repetitivo e cansativo. Os trechos potencialmente interessantes se perdem em meio ao mar de repetições de melancolias em suas mais variadas formas. Como a linguagem não se modifica e tampouco o personagem parece evoluir em suas reflexões, a leitura se torna penosa.

O livro tem trechos excelentes e é bem escrito, mas não consegui apreciar tanto quanto gostaria. Amo Fernando Pessoa, mas não rolou dessa vez.

September 22, 2021