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No verão mais quente e abafado de sua juventude, Raíza oscila entre a memória do pai, que entregara sua vida ao alcoolismo, e a figura um tanto alheia de sua mãe, Patrícia, escritora madura que se dedica à criação de mais um romance. O sentimento de rejeição e rivalidade que se apossa de Raíza aumenta diante da ligação misteriosa de Patrícia com o ex-seminarista André - um rapaz tão tímido quanto atraente. Serão amantes? Forma-se assim, na imaginação angustiada de Raíza, o triângulo amoroso que prenderá o leitor de Verão no aquário da primeira até a última página. Nesse segundo romance de Lygia Fagundes Telles, a autora aprofunda os temas que tinha explorado em Ciranda de pedra. Mas avança ainda mais no domínio formal do seu ofício. Escrito no início da década de 1960, tempo de transformações profundas no Brasil e no mundo, o livro se afasta da narrativa convencional. A autora adota o ponto de vista hesitante e aflito de Raíza: experiências, recordações e devaneios se entrecruzam, formando o mosaico desordenado de uma geração colhida pelo desmoronamento da família tradicional, sem que nenhum modelo bem definido viesse ocupar o lugar dela. Assim aquecidas, as paredes do aquário ameaçam se quebrar a qualquer momento.
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A conturbada passagem de Raíza da adolescência para a vida adulta.
— Vou pedir à titia que vista uma roupa de fada e me transforme num peixe. Deve ser boa a vida de peixe de aquário — murmurei.— Deve ser fácil. Aí ficam eles dia e noite, sem se preocupar com nada, há sempre alguém para lhes dar de comer, trocar a água... Uma vida fácil, sem dúvida. Mas não boa. Não se esqueça de que eles vivem dentro de um palmo de água quando há um mar lá adiante.— No mar seriam devorados por um peixe maior, mãezinha.— Mas pelo menos lutariam. E nesse aquário não há luta, filha. Nesse aquário não há vida.A alusão não podia ser mais evidente. Estou me despedindo do meu aquário, mamãe, estou me preparando para o mar, não percebe? Mas nem você percebe isso?
Eu realmente prefiro os contos da Lygia. Não que o romance não seja árido e envolvente como ela provavelmente o concebeu, mas Raiza e seus dilemas de algum modo me interessam menos que as reticências usuais.