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Esta obra narra a história da vida urbana de meninos pobres e infratores que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. O livro vai revelando os personagens, cada um deles com suas carências e suas ambições - do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca.
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Ainda que eu tenha me apaixonado pela(s) história(s) dos meninos num todo, o que me encantou mesmo foram a narrativa do Jorge Amado e a construção do romance. Nunca tinha lido nada desse autor, e fiquei maravilhado com essa espécie de delicadeza crua, esse jeito todo próprio de apresentar a história ao leitor. As vidas dos Capitães, contadas em episódios curtos dentro de cada uma das seções do livro, são poéticas, cruéis, pesadas, bonitas, tudo ao mesmo tempo.
Como acontece frequentemente com grandes obras, Capitães da Areia se mostra de uma atemporalidade impressionante e, tratando dos temas que trata, não me impressiona o impacto que este livro teve em 37.
[...] Omolu apareceu com suas vestimentas vermelhas e avisou a seus filhinhos pobres, no cântico mais lindo que pode haver, que em breve a miséria acabaria, que ele levaria a bexiga para a casa dos ricos e que os pobres seriam alimentados e felizes. Os atabaques tocavam na noite de Omolu. E ele anunciava que o dia de vingança dos pobres chegaria. As negras dançavam, os homens estavam alegres. O dia da vingança chegaria.
Jorge Amado nasceu a 10 de Agosto de 1912 em Itabuna, no sul do estado da Bahia. Estudou Direito, mas nunca exerceu advocacia. Estreou-se aos 18 anos com a obra [b:O país do carnaval 54122008 O país do carnaval Jorge Amado https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1592322189l/54122008.SY75.jpg 913000], e em 1937 viu toda a primeira edição de Capitães da Areia ser queimada em praça pública, o que o levou, em 1941, ao exílio na Argentina e no Uruguai.Em 1945 foi eleito Deputado Federal, mas voltou ao exílio em 1947, desta vez em França e Checoslováquia, quando o Partido Comunista foi ilegalizado. Regressou ao Brasil em 1952, em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Foi membro correspondente da Academia de Ciências de Lisboa.Foi agraciado com inúmeros prémios internacionais e recebeu diversos títulos, entre os quais: Vencedor do Prémio Luís de Camões, em 1995Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada, em 1990Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique, em 1986Jorge Amado faleceu na Bahia em 2001.Se já tinha gostado deste livro na primeira vez que o li, agora ainda gostei mais. Tornou-se um favorito. Aquilo que me entristece é olhar para o Brasil e ver que mais de 80 anos depois esta continua a ser a realidade de milhares de pessoas.Os molecotes atrevidos, o olhar vivo, o gesto rápido, a gíria de malandro, os rostos chapados de fome, vos pedirão esmola. Praticam também pequenos furtos.Há oito anos escrevi um romance sobre eles, os “Capitães da Areia”. Os que conheci naquela época são hoje homens feitos, malandros do cais, com cachaça e violão, operários de fábrica, ladrões fichados na polícia, mas os “Capitães da Areia” continuam a existir, enchendo as ruas, dormindo ao léu. Não são um bando surgido ao acaso, coisa passageira na vida da cidade. É um fenômeno permanente, nascido da fome que se abate sobre as classes pobres. Aumenta diariamente o número de crianças abandonadas. Os jornais noticiam constantes malfeitos desses meninos que têm como único corretivo as surras na polícia, os maus tratos sucessivos. Parecem pequenos ratos agressivos, sem medo de coisa alguma, de choro fácil e falso, de inteligência ativíssima, soltos de língua, conhecendo todas as misérias do mundo numa época em que as crianças ricas ainda criam cachos e pensam que os filhos vêm de Paris no bico de uma cegonha. Triste espetáculo das ruas da Bahia, os “Capitães da Areia”. Nada existe que eu ame com tão profundo amor quanto estes pequenos vagabundos, ladrões de onze anos, assaltantes infantis, que os pais tiveram de abandonar por não ter como alimentá-los. Vivem pelo areal do cais, por sob as pontes, nas portas dos casarões, pedem esmolas, fazem recados, agora conduzem americanos ao mangue. São vítimas, um problema que a caridade dos bons de coração não resolve. Que adiantam os orfanatos para quinze ou vinte? Que adiantam as colônias agrícolas para meia dúzia? Os “Capitães da Areia” continuam a existir. Crescem e vão embora mas já muitos outros tomaram os lugares vagos. Só matando a fome dos pais pode-se arrancar à sua desgraçada vida essas crianças sem infância, sem brinquedos, sem carinhos maternais, sem escola, sem lar e sem comida. Os “Capitães da Areia”, esfomeados e intrépidos!Bahia de todos os Santos, Jorge Amado