Ratings1
Average rating3
Reviews with the most likes.
6.0
Ambos os protagonistas de Um amor e T??rtaros s??o intrag??veis, s?? que em n??veis diferentes. Drogo (T??rtaros) ?? irritante mas possui uma sensatez, h?? uma ??ncora firmando seu comportamento err??tico. Sua desist??ncia e escapismo s??o elementos mudos, por??m ruidosos. S??o os temas que circundam e fecundam T??rtaros, apesar de nunca diretamente discutidos. J?? Antonio (Um amor) ?? um total bon vivant insensato. Um bon vivant de meia idade que encontra Laide, uma jovem prostituta. Ele se apaixona e acredita que, ao comprar o corpo de Laide, ele tamb??m est?? comprando um acesso a sua alma e portanto passa o livro inteiro se remoendo de ci??mes, como se a mesma n??o pudesse existir para nada nem ningu??m al??m dele.
Eu entendi, ele se v?? um fracasso na vida social e rom??ntica. Eu entendi, Laide representa uma vitalidade e um ritmo do qual ele nunca teve mas sempre ansiou. Contudo, a maior parte do livro gira em torno de Antonio degradando Laide e ao ponto da exaust??o, pois esses momentos n??o s??o usados como ??nfase ou como pontos chaves de desenvolvimento para Antonio, o livro inteiro ?? constitu??do de surtos de ci??mes e, por conseguinte, a tra????o do meio da historia indefere da do in??cio. O que quero dizer ?? que n??o faz diferen??a a hist??ria ter come??ado em alta velocidade, pois ?? como se o meio do livro sofresse da lei da in??rcia: o ve??culo pode at?? estar em movimento, mas os passageiros est??o claramente parados.
A desconfian??a de Antonio nasce na hora zero do livro, e a resist??ncia do autor de focar em qualquer outro aspecto de sua vida, torna-o muito mais desprez??vel e unilateral do que ele precisaria ser. N??o estou dizendo que ele precisava ser redim??vel, e sim que ele poderia ter sido algo um pouco mais perto de um ser humano funcional. Eu gosto como Buzzati brinca com alguns elementos liter??rios, como a incapacidade de Antonio em reconhecer a imagem de Laide em qualquer outro lugar que n??o seja entre quatro paredes, como se todas as mulheres para ele fossem iguais e portanto putas. Por??m, aspectos como este nunca s??o desenvolvidos a fundo e deixam uma impress??o de que poderia ter havido mais. Talvez se Buzzati tivesse apostado em uma abordagem mais m??gico-realista, como em T??rtaros, ele poderia ter explorado um pouco mais estes aspectos e com isso aprofundado melhor Antonio. Aprecio tamb??m a sequ??ncia em que Antonio visita o “Asilo”, contudo acho o final do cap??tulo um completo cop-out e facilmente um dos momentos mais brochas do livro.
Conforme a hist??ria se aproxima do fim, Antonio se torna mais ativo, dando uma cad??ncia melhor ao ritmo do livro. Foram de longe as melhores p??ginas mas a essa altura eu s?? queria terminar a leitura. O realismo naturalista do texto, quase parnasiano, infelizmente me irritou muito. E o ritmo em fluxo de consci??ncia, t??cnica a qual eu geralmente amo muito, conseguiu me afastar ainda mais do texto a ponto de me sentir tentado a passar reto por in??meras linhas. O livro ?? composto de in??meras repeti????es para al??m de desnecess??rias que testaram minha paci??ncia em certos momentos. A melhor experi??ncia que tive com este livro certamente foi quando uma mulher me interrompeu a leitura para me perguntar o t??tulo e sobre o que era, “eu gosto de ler tudo que envolva amor, ?? sobre namoro?” Eu pensei muito antes de responder, “N??o...?” “Porque?” “Porque o livro vai focar em uma obsess??o n??o correspondida.” “Ent??o porque o livro tem amor no nome?” “Porque amor nem sempre significa romance.” Ela parou por alguns segundos para refletir, “N??o entendi.” Admito que eu tamb??m n??o.